“A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil entende que é responsabilidade de todo cidadão participar, conscientemente, da escolha de seus representantes. Para os cristãos tal escolha deve ser iluminada pela fé e pelo amor cristãos, os quais exigem a universalização do acesso às condições necessárias para a vida digna de filhos de Deus”.
Esta afirmação faz parte do texto ‘Pensando o Brasil – Desafios diante das Eleições 2014‘, produzido durante a 52ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, realizada neste ano, em Aparecida/SP. Tal pensamento reflete o incentivo que a CNBB tem dado para que os cristãos se conscientizem da importância de participar ativamente de todo processo de escolha dos políticos brasileiros.
“A luta pela reforma política é a maneira de os cristãos se colocarem contra um difuso sentimento de decepção e descrença na política institucional que paira na sociedade”, afirma o texto. Nesse sentido, a CNBB também apoia a cartilha “Eleições 2014”, cuja temática é “Seu voto tem consequências: um novo mundo, uma nova sociedade”.
A cartilha foi feita pelo Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (Cefep), organismo vinculado à CNBB, em parceria com outras entidades. O subsídio foi apresentado durante a última Assembleia Geral e entregue aos bispos de todas as dioceses e arquidioceses. Esta iniciativa não é nova. Nas eleições municipais de 2012, 70 mil cartilhas foram distribuídas para as dioceses de todo o Brasil.
O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação da CNBB, dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, orienta que a cartilha seja estudada nas dioceses, grupos, comunidades, para um “grande movimento de cidadania e vivência da fé”. De acordo com ele, o texto quer ajudar os cristãos a se prepararem para as eleições de outubro de 2014.
A cartilha é dividida em três partes: ver, julgar e agir. Na primeira parte, são tratadas as questões enfrentadas na política nacional, lembrando as manifestações ocorridas no ano passado durante e após a realização da Copa das Confederações.
Na segunda parte, a cartilha dá destaque à desigualdade social e à particular situação de tomada de decisões no país, que pode acarretar uma reforma do sistema político brasileiro. Já na última parte, são traçados caminhos de responsabilidade social e cristã no meio público.
De acordo com o “Pensando o Brasil”, a fé cristã requer que “todos tenham vida e a tenham em abundância”, conforme Jo 10,10. Porém, ao contrário disso, constata-se que pessoas têm sido maltratadas e muitas morrem à espera de atendimento nos serviços públicos. Por isso, os meses que antecedem as eleições constituem um momento privilegiado para a reflexão sobre tais situações injustas que se alastram no país. “Isso exige que trabalhemos pela superação dos sofrimentos atrozes vividos por aqueles que são sistematicamente excluídos e que não se veem respeitados em sua dignidade de pessoa humana”, alerta o texto.
A CNBB destaca ainda a Lei da Ficha Limpa, fruto da mobilização e da participação política dos brasileiros que, no exercício de sua cidadania, fizeram valer seu desejo de não serem representados por quem não encarne os valores da ética e do compromisso com a sociedade. “Essa lei criou a possibilidade de uma efetiva renovação, já que vários políticos acostumados a usar cargos eletivos como profissão e a se beneficiarem do exercício de suas funções para proveito próprio e não como serviço ao público estarão, agora, forçados a deixar a disputa eleitoral. Esta é uma importante conquista para a democracia brasileira”.
Papa Francisco lembra a importância da participação política dos cristãos e sua responsabilidade na difícil, porém necessária, construção de uma sociedade mais justa: “devemos envolver-nos na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum”. Segundo o Papa, se a política se tornou uma coisa “suja”, isso se deve também ao fato de que “os cristãos se envolveram na política sem espírito evangélico”. Portanto, é preciso que o cristão deixe de colocar em outras pessoas a responsabilidade pela situação atual da sociedade e que cada um passe a perguntar a si mesmo o que pode fazer para tornar concreta a mudança que se deseja.
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